Manzuá
A construção de um território desloca os limites do livro de cadastros e das cercas. Vence recortes de tempos e de espaços e amplia fronteiras que não nos bastam ou que nos atravessam situadas em outras geografias.

Revista do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu
Onde termina o quintal e começa o Cerrado não existe marcação certa.
Dona Lili, nascida no Ribeirão de Areia, dançadeira do Manzuá e profunda conhecedora das plantas medicinais, diz que seu quintal é a sua reserva. Mas quintal, para ela e para tantas pessoas, é lugar de encontro, de reciprocidade, de festa. Reserva cuidada, cultivada para quem dela precisar.
A 4ª edição da Manzuá pede licença para adentrar com respeito os quintais-cerrado do Mosaico Sertão Veredas — Peruaçu para encontrar quem planta, borda, talha a madeira, pisa e molda o barro, faz biscoito e mané-pelado, sente saudade e se faz amigo, gira a roda do brincar e do rezar.
Quintais que acolheram as folias que não puderam sair nesses tempos da pandemia da Covid-19, mas que permaneceram vivas em cada comunidade. Por aqui, podemos entrar no quintal-vereda de seu Santino e Cristina, na comunidade de Água Doce, para ver como os povos tradicionais sabem ser os guardiões de suas águas e suas matas. Conhecer os quintais-ateliê de Liko, Vanuza, José Francisco, Agenor e Neto, artistas que carregam os sentidos do sonho, da memória, da fantasia e dos materiais vivos do Cerrado. Pisar o quintal de barro pintado do Candeal com suas mulheres oleiras a nos ensinar que cada pote é continuidade da vida. Conhecer o trabalho de quem, com paciência e perseverança, devolve ao Cerrado seu passarinho de bico grande e canto melódico, o bicudo. Ouvir os causos de onça de seu Getúlio nos quintais rupestres do Peruaçu. Aprender com o buriti a não se apartar das águas e continuar desejando o céu. Percorrer as distância que atravessam tantos quintais, ligam comunidades e nos levam em constante travessia, a geográfica e a dos tempos da gente. Porque os quintais são fora e dentro de nós.
Editorial da revista Manzuá, 4ª edição.
Cadê o Manzuá?
A Manzuá nasceu do desejo de abrir novos espaços de diálogo, aprendizado e afeto entre as pessoas, para além dos povos que habitam e formam o território do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu. Compreendemos a natureza não como recurso, mas como relacionamento vivo, sistêmico.
Editada pelo Instituto Rosa e Sertão e Lira Cultura, a Manzuá conta com a colaboração de diversos autores, agentes culturais e ambientais do território, receptivos familiares e do turismo de base comunitária. Conta, em sua 4a edição, com o apoio do BDMG Cultural/Governo de Minas Gerais.
Coordenação editorial: Carol Abreu, Damiana Campos, Marcela Bertelli.
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